Em um episódio ocorrido em Washington, anos atrás, um menino de treze anos, que participava de um desses programas de soletração, não obteve êxito ao articular, na ordem correta, uma das palavras solicitadas. A palavra em questão era ecolalia, que significa, em resumo, “uma repetição em eco da própria fala”, um distúrbio muito comum em crianças com autismo.

Embora ele não tenha soletrado a palavra corretamente, a resposta foi considerada correta e ele seguiu na competição. Quando percebeu o equívoco, o menino dirigiu-se aos juízes e os avisou que havia errado, motivo pelo qual foi eliminado da disputa. Em razão da sua integridade, foi considerado então “herói da competição”.

Essa história foi contada no livro Justiça, de Michael Sandel, filósofo de Harvard, responsável também pelo curso “Justice”, cujo propósito é relacionar grandes problemas da filosofia com o cotidiano. Para Kant, uma boa ação é feita por ser a coisa certa, não importando se isso trará prazer ou não. A escolha do menino, ao alertar os juízes acerca da falha e com isso lhe tirar da competição, provavelmente não lhe trouxe prazer naquele momento.

 Não pretendo aprofundar nas obras de Kant, a respeito de ética e moral. Sintetizo em uma reflexão bem menos apurada de que todos sabemos o caminho certo a seguir. O que talvez seja mais difícil de desenvolver é o hábito de renunciar aos nossos desejos, que são passageiros e egoístas para dar lugar a ações duradouras, cujos impactos promovam bem-estar a um número maior de pessoas, mesmo que para isso eu tenha que abdicar do meu próprio, temporariamente.

Todos os dias temos escolhas a fazer, muitas. De um universo de infinitas possibilidades, optaremos por uma. A grande questão é saber como cada ser humano guia-se para eleger suas condutas, quando cada um tem conceitos próprios de justiça, felicidade, honestidade. Ouso arriscar ao afirmar novamente: o caminho correto é um só e, certamente, aquele em que nosso coração permanecerá em paz.

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